Coisas do interior

Eu moro em Jaguariúna, onde tem rodeio, onde tem um monte de fazenda, e onde dia sim, dia não, eu tenho que ultrapassar um trator na estrada, onde plantam cana-de-açúcar e milho em volta de casa, e parece que, desde ontem, onde um porco-espinho resolve se instalar no forro do telhado da cozinha.

Ou seja, no meio da roça.

Jaguariúna é uma cidade pequena e pacata, tem 60 mil habitantes se a memória não me falha. Aqui se puxa o “R” quando se fecha a porteira, a cerveja é vendida em fardinhos, e é bem comum as pessoas te conhecerem por nome em vários lugares. Como o meu nome é incomum e a minha memória para nomes é praticamente zero, um monte de gente me chama pelo nome, e eu nunca lembro o nome de ninguém.

Aqui as pessoas ouvem sertanejo. É impressionante. Festa sim, festa não, tem sertanejo tocando em volta de casa. De um ano para cá o nível de ruído em volta de casa melhorou bastante (somos vizinhos de duas chácaras que são alugadas para festa), então eu não tenho muito mais do que reclamar. A única coisa que eu não curto muito são os fotos nas datas comemorativas, e mesmo assim é mais em solidariedade aos cachorros.

Aqui tem um moleque com o boné quase flutuando sobre a cabeça por caixa no mercado, embalando as suas compras. E até que eu acharia legal, se eles não usassem tantas sacolas e se eles tivessem umas regras melhores para o que colocar em cada sacola. Agora eu levo caixa para o mercado. Os empacotadores falam que “é assim que se faz em São Paulo”, e eu me sinto meio moderno, com o meu chinelo permanentemente manchado de barro, e a minha bermuda velha. As caixas foram idéia da Soraya. Funciona. Eu acho mais fácil de descarregar as compras em casa. Se eu pedir para eu mesmo embalar as compras, parece que eu machuco os sentimentos do pessoal que empacota as compras, então de uns tempos para cá eu decidi apenas colaborar com eles.

Tem cartão de pontos no mercado onde eu faço as compras. Não sei como é, mas me parece que se você juntar um milhão de pontos você ganha um pente. É que nem uma Pizzaria que tinha em algum lugar que eu já morei, se você pedisse dez pizzas tinha um desconto de vinte por cento na décima primeira. Não vale a pena o trabalho que dá.

Eu gosto de ver as máquinas que colhem a cana funcionando à noite. Parece coisa de filme de ficção científica. Eu sempre fico pensando se o cara que está colhendo a cana é mesmo o dono da fazenda (ou um empregado dele), mas como não tem muito muro em volta de nenhuma fazenda aqui, imagino que seja o caso.

O pôr do sol aqui sempre é muito bonito, sempre tem bastante poeria no horizonte. As noites são muito claras e estreladas.

Eu gosto de morar na roça. À noite esfria, dá para dormir tranquilo, eu gosto do barulho dos passarinhos, e eu gosto do sossego daqui. E eu achando que nunca ia conseguir viver longe do mar.

Uma resposta em “Coisas do interior

  1. Olá Ravi. Passando pra dizer que leio seu(s) blog(s), mesmo estando desativados. Principalmente o meatcanda. Estou morando em Toronto faz 1 ano e acompanhar a evolução da sua história me ajuda, se não a encontrar as respostas que quero, pelo menos ajuda a tranquilizar a mente e o espírito nos dias mais difíceis. Lendo hoje seus posts de uma década atrás, me sinto quase numa cápsula do tempo, tendo algumas experiências idênticas às que você teve, mas separadas por um longo intervalo de tempo. Espero que voltes a escrever. Você tem uma boa percepção dos fatos corriqueiros da vida. Abraço

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